O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), dermatologista Heitor de Sá Gonçalves, destaca que a hidradenite supurativa afeta aproximadamente 1% da população brasileira, ou seja, cerca de 2 milhões de pessoas. Esta condição, frequentemente confundida com furúnculos, acne severa e outras infecções cutâneas, também é conhecida como “espinha invertida”. Devido a essa semelhança com outras doenças, o diagnóstico da hidradenite supurativa frequentemente sofre atrasos significativos, em média de 12 anos. Esse retardamento no diagnóstico não apenas atrasa o início do tratamento adequado mas também pode resultar em consequências duradouras, incluindo cicatrizes e impactos negativos na autoestima.
Heitor de Sá Gonçalves enfatiza a grave redução na qualidade de vida que a hidradenite supurativa pode causar, comparando seus efeitos com os de doenças como a hanseníase, psoríase severa e dermatite antrópica. Diante dessa realidade, o vice-presidente ressalta a necessidade de uma atenção especial à doença e de iniciativas para o treinamento de médicos no sistema de saúde pública, especialmente na atenção primária. O objetivo é garantir que esses profissionais estejam preparados para reconhecer os sinais da doença e encaminhar os pacientes para tratamento especializado de forma eficaz.
Além disso, está em andamento um esforço para aumentar a conscientização sobre a hidradenite supurativa entre o público e as autoridades de saúde, bem como um programa de capacitação direcionado a médicos da atenção básica. Este programa visa aprimorar a habilidade desses médicos em identificar a doença precocemente, permitindo que os pacientes sejam encaminhados para centros especializados da SBD para diagnóstico e tratamento adequados. Um programa de treinamento específico para médicos da Estratégia da Saúde Família (ESF) está sendo implementado com a intenção de melhorar o diagnóstico precoce da hidradenite supurativa.
A hidradenite supurativa é uma doença inflamatória crônica da pele, mais comum em mulheres após a puberdade, afetando principalmente áreas como axilas, seios, virilha, região genital e glútea. Anteriormente, acreditava-se que a doença era causada por uma inflamação ou infecção das glândulas sudoríparas apócrinas nessas regiões. Contudo, pesquisas mais recentes sugerem que a condição pode originar-se da inflamação dos folículos pilosos. A etiologia da hidradenite supurativa ainda é incerta, mas ela é considerada uma doença autoinflamatória e pode ter predisposição familiar, além de estar associada a outros problemas de saúde e hábitos de vida, como o tabagismo.
Para prevenção e tratamento, recomenda-se manutenção de um peso saudável, evitar roupas apertadas e cessar o uso de tabaco. Dependendo da gravidade, o tratamento pode incluir antibióticos tópicos ou orais, anticoncepcionais hormonais para algumas mulheres, e, em casos mais severos, cirurgia ou medicações imunossupressoras. Recentemente, com esforços da SBD, medicamentos biológicos de alto custo foram inclusos no Sistema Único de Saúde (SUS) e em planos de saúde suplementares.
É vital que os pacientes estejam atentos a sintomas como lesões dolorosas que podem abrir e drenar pus, recorrendo a especialistas o quanto antes para diagnóstico e início do tratamento. Assim, é possível não apenas tratar a hidradenite supurativa de forma eficaz mas também tomar medidas preventivas contra o desenvolvimento da doença, como manter um estilo de vida saudável e evitar hábitos prejudiciais.
Fonte: Metrópoles